quarta-feira, 27 de agosto de 2014

O Zelador




          


Preparando Campeões é um colégio muito tradicional do interior de São Paulo, localizado na zona sul de uma cidade de porte médio, muitos adolescentes e jovens se inscrevem no seu vestibulinho para cursarem o ensino médio, e participarem de diversos eventos esportivos. Do outro lado da rua, em frente ao colégio existe um grande alojamento, onde moram muitos jovens sobre a proteção de seguranças do colégio, são organizados muitos eventos e festas para os alunos que passam o fim de semana no alojamento, mas é muito comum encontrar os alunos em rodas de conversas contando varias estórias que supostamente aconteceram no campus do colégio.

                Thiago era um dos alunos mais animados do campus, de porte atlético devido a pratica de natação no campus, moreno de um metro e setenta e cinco de altura, cabelos curtos, olhos castanhos, era um menino de dezessete anos e desejado por muitas meninas do colégio, sempre por perto de Thiago estava Aline, uma menina de dezesseis anos, pele clara, olhos castanhos claros e cabelo na altura dos ombros e Thiago adorava fazê-la sorrir com suas estórias, ele era apaixonado por ela, mas ela fingia não saber.

                Em uma manha de terça-feira no horário do intervalo das aulas, dos alto-falantes ecoaram a voz de dona Vilma, a diretora, anunciando que o colégio acabava de contratar um novo zelador, o senhor Carlos. Poucos deram importância para o aviso, mas logo o novo zelador se tornaria grande atração no campus.

Algumas meninas começaram a murmurar sobre quem seria aquele homem que estava andando pelo campus, porte atlético em um corpo bem definido, aparentava ter uns trinta e cinco anos, moreno e um corte de cabelo moderno, vestia-se muito bem e parecia estar conhecendo o lugar. As meninas começaram e olhar aquele homem pensando que seria um novo professor, e Carolina amiga de Aline resolveu ir perguntar ao homem:

- Ola professor, bom dia, o senhor leciona o que?

- Bom dia minha educada menina, não sou professor, sou o novo zelador e me chamo Carlos – respondeu gentilmente, e acrescentou – aproveitando sua gentileza poderia me indicar onde fica o antigo ginásio de vôlei?

- Claro, fica descendo toda a rua lateral no final à direita, basta ir reto, é o ultimo prédio, mas lá esta abandonado, ninguém vai lá. – indicou com ar de curiosidade.

- Por isso que fui contratado, logo vocês passaram a ir lá novamente - comentou Carlos sorrindo – com sua licença, preciso ir para justificar meu salário (risos).

Era cada vez maior o numero de meninas queriam conversar com o novo zelador, ele se mostrou um homem educadíssimo e admirável, Carolina era a mais empolgada, mas o zelador mostrava interesse especial por Aline, e sempre tentava começar uma conversa, mas logo ela se afastava, por algum motivo Aline não gostava da presença daquele homem que todos começavam a admirar. Thiago também estava incomodado com o novo zelador, mas seus amigos não paravam de zombar dele, diziam que o zelador ela melhor contador de estória de terror, que sabia diversas estórias que se passaram em colégios, e Thiago estava incomodado que cada vez mais alunos deixavam de ouvi-lo para ouvir ao senhor Carlos, e que ele estava apoiando Aline que não gostava do novo zelador porque queria agradar a amada.

Após três meses da contratação do senhor Carlos, o antigo prédio do ginásio de vôlei estava quase todo reformado, as paredes pintadas de vermelho e a arquibancada de azul, cores oficiais do time do colégio, agora faltava apenas terminar o piso,  dois alunos entraram correndo pelo ginásio aos berros dizendo que a diretora estava chamando o zelador urgente, prontamente ele correu para a sala da diretora, chegando a porta da sala observou que havia cinco pessoas, a diretora, um casal e dois homens de ternos.

- Mandou me chamar diretora – disse Sr. Carlos ofegante.

-Sim senhor Carlos, estes são os pais de Camila, nossa aluna do primeiro ano do ensino médio e estes são o delegado Sr. Pablo e o investigador Matias – apresentou a diretora enquanto servia água ao zelador e continuou – Camila não passou o final de semana em casa, e ninguém a viu no campus, hoje ela não compareceu a nenhuma de suas aulas. Mostre aos policiais tudo que eles quiserem ver.

O Zelador saiu apressado da sala indicando aos policiais o caminho para eles o seguir, e caminharam por todos os locais do campus sendo que o ginásio sendo reformado foi o que mais o chamou a atenção: - Sr. Carlos porque o centro do ginásio ainda não foi cimentado? – perguntou Matias.

- Que?  - Assustou-se o zelado – é que os pisos demoraram a chegar, então fiz o que pude primeiro – completou sem inspirar muita confiança.

Os dias se passaram e Camila não apareceu e ninguém sabia seu paradeiro, como toda a investigação ocorria em sigilo absoluto todos os alunos tentavam coletar informações com o zelado, que ganhou a confiança da diretora, pois não comentava uma única palavra e se dedicou com mais afinco em seus trabalhos. Com o ginásio de vôlei pronto Sr. Carlos pode se dedicar a reforma do local onde ficava a velha piscina, ali seria uma nova praça de leitura, a piscina havia sido aterrada, com exceção de um fundo buraco que seria plantada uma arvore, o Sr. Carlos plantou grama em todo o local, já havia colocado conformáveis bancos e algumas mesas, faltando apenas a arvore, que já estava no local para ser plantada. Na sexta feira à noite os alunos que permaneceram no alojamento escutaram barulhos no terreno do Colégio, e chamaram o chefe da segurança, Marcos. Marcos era um homem de 1.90 mts de altura, negro e ex lutador de MMA, mas uma pessoa muito carinhosa com todos, prontamente pegou sua lanterna e foi ver o que estava acontecendo, Thiago e mais 3 alunos o seguiram, muito a contragosto do segurança:

- O que o senhor esta fazendo há esta hora senhor Carlos, acordou a todos no dormitório – berrou o segurança para o zelador.

- Desculpe senhor segurança – disse em tom de ironia – é que este é o melhor horário para se plantar a arvore para que ela não sofra com o calor do sol.

- Esta bem, termine isso logo e segunda-feira eu converso com a diretora sobre isso – informou o segurança e virou-se para os alunos que o seguiam – Vocês, já pra cama!

Na segunda feira pela manha o segurança estava decidido a dizer para a diretora que ele queria ser avisado sobre os trabalhos noturnos que aconteceriam na escola, mas ao chegar à sala da diretora viu o Sr. Carlos saindo com os policiais da sala da diretora e um casal permanecerem lá. – Aconteceu algo que eu possa ajudar senhora diretora? – perguntou o segurança.

Pedindo licença aos pais de outra aluna ela disse ao segurança: – Venha comigo agora.

Chegando a uma sala reservada ela continuou: - O senhor Carlos me disse que o senhor e um grupo de alunos estavam andando pelos dormitórios a noite, quero saber o por que. Não me interrompa – disse a diretora alterando a voz e demonstrando sua fúria - que tipo de atividades o senhor esta fazendo a noite? Quem eram estes alunos? E vocês estiveram no dormitório feminino?

- Como assim diretora – disse o segurança sem entender o que estava acontecendo – Fui verificar o barulho que estava nos terrenos e os meninos me seguiram. E porque o senhor Carlos estava trabalhando a noite? Ninguém me comunicou – quis saber o segurança.

- O senhor Carlos veio a mim hoje pela manhã e me comunicou que decidiu plantar a arvore a noite por causa do sol – disse ela acalmando-se – quero lhe dizer que outra de nossas alunas esta desaparecida, quero que o senhor me de o nome dos meninos que estavam com você e que o senhor assuma o turno do dia, o senhor Carlos fará a segurança a noite.

- Como assim diretora? Eu sou o chefe da segurança, eu devo proteger os alunos e não gosto desse senhor Carlos – disse indignado

- Minhas ordens foram claras, você tem meia hora para me trazer aqui estes alunos e os policiais vão dar uma palavrinha com você também – disse ela

- Agora sou suspeito? – disse o segurança saindo da sala.

O Segurança senhor Marcos era muito amigo de todos os alunos, contou ao grupo o ocorrido, sobre o sumiço de mais uma aluna e que não confiava no zelador, que mentira sobre o porquê eles estavam no terreno à noite para a diretora. Thiago escutou tudo com muita atenção e após o encontro com a diretora e os policiais ele foi procurar Marcos, o segurança.

- Senhor Marcos, queria conversar um momento com o senhor, tem alguns minutos? É muito importante – disse o garoto.

- Claro, venha a minha sala parece que esta conversa será muito seria. – interessou-se o segurança.

Chegando a sala o garoto prosseguiu: - tenho suspeita de que o senhor Carlos esta envolvido no sumiço das meninas – disse Thiago indo direto ao ponto – não gosto dele, nunca gostei, e ele conta muitas estórias de sumiço de meninas em escolas, tenho quase certeza que ele esta envolvido.

- Tenha calma Thiago, também não gosto dele, mas precisamos de provas e a diretora confia nele – disse o segurança

Os dois conversaram por um longo período, e decidiram que ficariam de olho no zelador, o segurança no período do dia em que Thiago esta estudando e o garoto no período da noite, pois sem o segurança nos dormitórios alguém teria que orientá-lo, Marcos marcou o numero do celular dele na discagem rápida do celular de Thiago e se despediram. A Semana passou sem que nada de anormal acontecesse, na sexta-feira Aline foi procurar Thiago para dizer que seus pais viajariam no fim de semana e que ela ficará no campus, queria saber se haveria alguma coisa para fazer, Thiago passou o dia tão feliz com a noticia que se esqueceu dos seus afazeres noturnos no campus, a tarde se aproximou lentamente e como de costume muitos alunos estavam indo para suas casas, por volta das 17hs o campus já estava quase vazio, restando apenas cerca de vinte alunos que passariam o fim de semana. Thiago encontrou Aline e ficaram conversando, por volta das 18hs e 30 min. Aline disse que iria tomar banho e o encontraria no refeitório para jantar, e que queria uma mesa só para os dois porque ela queria dizer algo que ele iria adorar, Thiago ficou eufórico com a esperança de que ela aceita-se namorá-lo, e foi se aprontar para o jantar.

No refeitório havia poucas pessoas presente, os alunos que ficaram e um dos seguranças, Thiago estava tão eufórico que não percebeu a ausência do zelador no jantar, mas a preocupação começou afligi-lo quando o relógio marcou 19hs e Aline não apareceu, perguntou para uma das meninas: - Você viu a Aline por ai?

- Não, acho que ela foi para casa passar o fim de semana com os pais – respondeu a menina.

Thiago sabia que não era verdade, que Aline ficaria no campus este final de semana, decidiu ir procurá-la, olhou primeiro no dormitório feminino e não a encontrou, durante duas horas ele vagou pelo campus sem sucesso, ao longe avistou o zelados trabalhando em uma vala devagar foi se aproximando e escondido o viu cavar alegremente um fundo buraco na vala, de repente lhe ocorreu a ideia de olhar na casa do zelador que era a mais afastada no terreno do colégio, ao se aproximar encontrou caída a blusa que Aline tinha amarrado na cintura, o pânico começou a tomar conta do seu coração, ele chegou a casa e olhou pela única janela existente, viu no chão o corpo inerte de Aline, a porta estava trancada, usando toda sua força ele chutou, chutou e chutou de novo, a porta não abriu ele tomou distancia e correu jogou todo seu peso sobre a porta e sentindo todo seu corpo dolorido cair ao chão dentro da casa e ao lado do corpo de Aline, se recuperando do impacto arrastou-se para o lado dela, ela estava respirando, mas desacordada, parecia dopada ele tentou acordá-la sem sucesso, sabia que o zelador logo estaria de volta então pegando sua amada nos braços e a carregou para fora da casa, foi se afastando quando de repente uma dor insuportável em suas pernas o fez cair, ele se virou e viu o zelador com um pedaço de pau partido nas mãos.

- O que você esta pensando garoto – disse o zelador – esta é mais uma das garotas que me ignoram, sempre foi assim, eu brincava, contava piada e estórias, mas essas metidas se achavam superior a mim e se afastavam, como se eu fosse um porco, ela vai ser enterrada vida como as outras, o buraco dela já esta pronto.

- Eu não vou permitir que você machuque a Aline – disse Thiago ficando de pé com a perna quebrada – terá que me matar entes de machucá-la.

- Ora, ora um rapaz apaixonado, acha que será difícil? – disse o zelador chutando a perna quebrada de Thiago e jogando-o ao chão – será um prazer.

Thiago reuniu forças e ficou de pé, viu um sorriso maldoso no rosto do zelador, Aline caída desacordada atrás de Thiago fez um barulho e o garoto se virou pra olhar, uma forte dor na cabeça ofuscou sua vista e ele caiu semi-desacordado, em sua distração o zelador o acertou na cabeça com o pau, pouco antes de perder completamente a consciência Thiago pegou o celular do bolso apertou a discagem rápida e do outro lado da linha Marcos o segurança atendeu rapidamente e ouviu a voz de Thiago fraca: - Socorro, zelador culpado Aline na Vala academia, socorro. E silencio, Thiago perdera a consciência completamente, o segurança saiu correndo para ajudar, e ligando para o delegado Pablo foi atender ao pedido de socorro dos alunos amigos.

A dor sumiu, mas mesmo assim ele gritou: - ALINEEEEEEEE...

- Fique Calmo filho, calma. Ela esta bem – disse a mãe de Thiago abraçando-o.

Ele estava na maca da ala hospitalar, olhou para todos os lados para se localizar viu seu pai vindo em sua direção, sentiu pela primeira vez o gesso envolvendo toda sua perna quebrada e uma pequena dor na cabeça, colocou a mão e sentiu que não havia mais cabelo e sim uma faixa toda enrolada.

- Dezoito pontos e pedi que te deixassem totalmente careca, tinha muitas menininhas aqui na porta então resolvi te deixar um pouco feio – disse o pai agora abraçando o filho – meu grande herói, mas chame a policia ao invés de querer lidar com um bandido perigoso.

Entrou na enfermaria Marcos o segurança: - Pegamos ele Thiago, você foi um herói, salvou a Aline e limpou meu nome,  ele era procurado em outro estado, a maioria das historias que ele contava eram reais e ele era o assassino das meninas e estava aqui usando documentos falsos.

- Ele esta preso? – perguntou Thiago

- Ele esta morto, quando o delegado Pablo e eu chegamos ele tinha colocado a Aline no buraco, mas estava armado, atirou no delegado e o investigador Matias acertou ele – resumiu o segurança -  mas mudando de assunto, você virou a tração de escola, não poderá participar dos campeonatos de natação este ano, mas tem alguém que quer te ver  -  e afastou-se para Aline entrar.

- Thiago, você salvou minha vida, e nem vai participar do campeonato que você tanto queria, justo no seu ultimo ano no colégio, me perdoe – disse ela se aproximando de Thiago.

- Pior foi perder nosso jantar - disse ele sorrindo.

Ela se aproximou do garoto e abraçando-o deu-lhe um beijo na boca: - A resposta sua é sim, eu quero namorar você Thiago – disse ela após o beijo.


Criado Por Adriano Dymattos

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

O Irmão e o Palhaço




Ronald trabalhava como palhaço por anos, e já adquirira experiência suficiente para promover grandes eventos por conta própria. Naquele dia, ele organizara um show infantil com o intuito de angariar fundos para um projeto pessoal. Sua profissão era gratificante, pois lidar com crianças, para ele, era uma das melhores coisas do mundo.
Seus cabelos em tom escarlate, encaracolados como macarrão ao sugo, pendiam por uma peruca mal colocada naqueles fios realmente negros por debaixo do nylon vermelho. Com sua estatura alta e porte físico desejável, Ron, como era conhecido, sempre ostentava um sorriso incomum para os homens de sua idade. A propósito, ele não gostava de revelá-la a ninguém, mas estima-se que ele tenha no máximo vinte e cinco anos.
Nota-se claramente que ele gosta muito de praticar exercícios físicos, mas seu tônus muscular elogiável dá-se mais em vista de seu esforço com as crianças do que com uma academia em si. O trabalho que as pestinhas dão é fenomenal.
Após anos no emprego, ele já se mantinha sozinho no ramo e começara a preparar festas por si próprio. Juntava grande parte de sua renda para aquele projeto personalíssimo. Por tempos lutou por ele, e agora este estava prestes a se concretizar.
-Tio Ronald, você faz um cachorrinho para mim? – Questionava um menino de cinco anos com um chapéu de festa azul na cabeça. O moletom engordurado também estava com uma fenomenal marca de sorvete, com uma mancha roxa que provavelmente nunca mais sairia. – Tio Ronald?
-Ah... Cachorrinho? – Ron não se atentara para a pergunta. – Que cachorrinho?
-De balão. – O garoto sorriu.
-Ah.
Ronald enrolou a bexiga debilmente e devolveu-a ao garoto.
-Quê isso, tio? – O garoto parecia não estar satisfeito. – Eu pedi um cachorro! – Ele abriu a boca para chorar.
Aquele dia não estava sendo o melhor da vida de Ron, e seus sonhos estraçalhados e estourados como um balão o pressionavam a ponto de fazer algo improvável.
-Dê-me aqui este balão, menino. – O garoto viu seu mais precioso bem ser suprimido de suas mãos. E, ignorando todo o resto das pessoas que estavam do outro lado do parque gramado, sequestrou o garoto. Tinha se cansado de vez daquele emprego, e, embora podia ser preso por aquilo, não parou muito para pensar nas consequências.
O menino babado e sujo de sorvete foi levado sorrateiramente para um furgão adornado com alguns adereços de palhaços. Um belo nariz vermelho ficava em cima do veículo, e indicava que o palhaço Ron estava chegando. A buzina do furgão também foi modificada.
Contudo, o homem estava cansado daquela vida de palhaço e queria que o resto do mundo explodisse. Antes, porém, aquele garoto iria sofrer.
Mas como?
Primeiramente, pegou-o e amordaçou-o com alguns balões vazios que ele mantinha em uma sacola, prendeu-o com o cadarço de seus enormes tênis e por fim enfiou quase que toda sua peruca na cabeça do garoto, que ficou mais parecido com um pequeno palhaço do que com um refém de verdade.
Chutou uma lata de refrigerantes que caíra da mão do garoto e sentou-se no banco. Apreensivo, girou a chave, com as mãos trêmulas, e ligou o carro. Arrancou cantando pneus enquanto alguns dos pais que acompanhavam os filhos corriam aturdidos rumo ao veículo, e, inclusive, dois deles desesperados pelo filho que fora roubado.
A polícia foi chamada e rapidamente perseguia o rapaz, que foi mais astuto e, com uma virada brusca, derrubou o nariz de cima do veículo, que se espatifou em cima do carro dos tiras. Eles foram obrigados a parar, e o meliante escapou ferozmente por entre uma rua estreita e sinuosa, bem no centro da cidade.
O labirinto urbano foi transpassado fielmente por alguém que conhecia toda Arcádia, na Califórnia, e o homem em fuga foi perdendo as contas do tempo que passara com o pé somente no acelerador.
Por fim, já as duas horas da tarde, três horas depois do incidente, parou em uma casa de campo, feita de madeira e decorada debilmente com algumas cabeças empalhadas de porcos e bois( por sinal, muito esquisitas)e desligou o carro de forma apressada, esquecendo o garoto lá dentro por algum tempo. Entrou e encontrou-se com seu irmão Maurice, fazendo sabe-se lá o que com uma garota em seu quarto. Resolveu pegar uma bebida bem gelada, que por fim acabou virando um whisky quente e ardente. Bebeu toda a dose em somente um gole, e a bebida desceu queimando sua garganta. Tirou um maço de um legítimo Marlboro, acendeu-o e pitou algumas vezes.
Maurice saiu do quarto praticamente nu, com a mulher de não mais de dezoito anos atrás, despreocupada em enrolar-se em algo para esconder suas vergonhas.
O irmão e a “acompanhante” se assustaram. Ele já estava acostumado com o corpo masculino, e então nem ligou de mostrar suas partes a Ronald. A garota se enfiou de volta no quarto, com uma batida de porta nem um pouco agradável.
-Ron, meu palhaço favorito. O que faz aqui? Pensei que tinha que trabalhar hoje.
-Desisti de tudo.
-Como assim de TUDO? – Maurice ficou aturdido e veio correndo tirar satisfações com o irmão. – Tudo o que?
-Tudo. Cansei. Manda embora essa...aquela...- ele não encontrava a palavra certa. – ah... mulher, embora.
-Está bom então. – O irmão parecia nervoso e raivoso, mais sabia que não poderia contrariar Ronald, seu irmão mais velho, então foi logo tratar de despedir-se de Katy.
-E guarde isto em seu lugar. – Apontou para as partes baixas. – Cansei-me de vê-las livres pelo ar.
O outro irmão ficou mais aliviado. Ronald sendo “Ronald, o palhaço”.
 Após a saída de Katy, que na verdade era Monique Salém, uma prostituta, Ronald levou o irmão, já de cuecas e com um cigarro na boca(O vício era presente entre os dois) para conferir o “material” que Ron trouxera na parte de trás do carro amassado e sem o nariz de palhaço que ficava em cima do capô.
-Caramba, cara! O que é que você arrumou aí? Tá doido?
O garotinho olhava para os dois com olhos de ressaca.
-E aí? – Ronald olhou para o irmão. – Sugestões?
-Claro que não, cara! O que você acha que vou fazer com um garoto de dez anos amarradona parte de trás de um carro? Onde é que você estava com a cabeça?
-Pra falar a verdade, já perdi a cabeça a muito tempo. Sequestrei um garoto em uma festa infantil, fui perseguido pela polícia, atropelei o cachorro de uma madame e derrubei o nariz vermelho estúpido em cima do carro dos tiras, velho. Eu tô ferrado!
Ron olhou para o horizonte perdido no meio do nada e ficou por alguns segundos deslumbrando a estrada vazia.
-Cara? – Ronald se virou quando Maurice chamou-o com uma voz bastante rouca depois de anos de cigarro e drogas.
-Oi?
-Olha pra estrada.
E Ronald quase sujou as calças quando o batalhão de polícia de Arcadia parecia estar completamente vindo em sua direção. Cerca de dez viaturas e mais uns doze policiais em motocicletas.
-Cara, o que foi que você fez?
-Sequestrei aquele garoto ali. – Ron apontou para o menino, que não esboçou reação. Sua roupa estava bastante suja de um suor mesclado à poeira da estrada. – Simplesmente isso.
-Simplesmente isso? Cê pirou? – Maurice pegou as chaves do carro. – Vamos nos entregar e pagar pelo que você fez. – Olhou para si mesmo e repensou: - Acho que os tiras não vão querer explicações e vão me levar junto.
-Não tardou a perceber seu erro. Parabéns! Agora, - O palhaço buscou em seus pensamentos. – é... Entre aqui e vamos fugir!
O irmão entrou sem pestanejar.
O velho furgão rangeu os motores e cantou pneus antes de os dois irmãos ouvirem a sirene da polícia. É essencial ressaltar que, na verdade, o que se via dentro do carro era um menino pálido amarrado com balões, um palhaço ao volante e um bêbado praticamente pelado bebendo whisky e fumando pela janela, enquanto metia a cara para fora e saudava maliciosamente as mulheres por quem eles passavam.
-E agora? Para onde?
Ronald distraiu-se um pouco com a estrada e devaneou por alguns momentos.
-Sei lá. Já ouviu falar em **-se. Então, é para lá que vamos. Quer mesmo ir?
-Acho que não, mas tanto faz então.
-Vambora!
E o dia foi sumindo bem devagar, à medida que as cidades passavam em relâmpagos, como flashes, e algumas pequenas viaturas nem sequer paravam para reparar nos dois fugitivos emaranhados em uma situação perigosíssima.
A noite toda foi de muita estrada, e pela manhã Ronald ainda suspirava os efeitos do álcool e do cigarro, que daquela vez não fora de fumo.
-E aí, cara, o que você vai fazer? – Maurice acordara sobressaltado.
-Não enche. – Ronald virou a cara e deu mais um trago no cigarro.
-Nervosinho...
-O que foi? Tá achando bom não?
-Não é isso. É que eu quero saber o que vamos fazer em seguida. E tem também o lance do menino.
-Menino? Que menino? – Ron não se lembrava de muita coisa enquanto consumia drogas. Até que encontrou bem no fundo de sua mente a imagem do garoto que tinham sequestrado. – PUTZ!
O carro foi freado bruscamente até parar no acostamento de uma rodovia pouco movimentada no Texas.
-*lho, velho, *ta *rda, esquecemos a *rra do menino no banco de trás. Que *sta!
-Calma *rra! O bichinho ainda tá aí preso e só deve estar com uma *ta fome.
Os irmãos foram em direção ao fundo do veículo, abriram a porta do furgão acoplado ao carro e tiveram uma baita surpresa: O menininho bonitinho que Ronald tinha sequestrado, sujo de baba e sorvete, estava roxo, caído ao chão, e duro como uma pedra.
Contudo, ainda estava quente, por isso, ainda sob efeito de drogas, o irmão mais velho meteu logo a boca nos lábios pequenos do menino na esperança de ressuscitá-lo, como se faz com as pessoas com parada respiratória, mas o gosto de sangue e vômito que a boca do garoto lhe proporcionara o fez abandonar a proposta rapidamente.
-*lho, velho! Que *sta que a gente fez. * tomar no *, seu *zão, olha onde você me meteu! – Maurice tinha empurrado o irmão para longe com uma força descomunal. Ronald, bêbado e “noiado”,caiu com tudo em cima de uma pequena pedra que lhe deu um grande rasco em uma das mãos, e sua blusa escrota de palhaço ficou logo manchada de sangue.
-*rra, meu! Cê tá de brincadeira comigo, ou minha mão tá mesmo sangrando? – Ronald parecia não sentir dor alguma. Pegou o cigarro e pitou mais uma vez.
-Tá doido bicho, cê tá muito noiado, isso sim! A gente tem que dar o fora daqui agora. Tô vendo uma casa ali a uns dois quilômetros. Parece que não tem ninguém lá, a gente pode ir e ver se eu consigo alguma coisa. Bora!
Maurice assumiu o volante e acelerou tanto que o presunto atrás do carro chocou-se violentamente contra uma das paredes da caixa metálica que caracterizava o furgão. Um barulho oco foi ouvido, seguido de um vômito tremendamente absurdo que saíra da boca de Ronald e sujara a estrada de verde, dez vezes mais nojento que o slime da Nickelodeon.
-Seu filho da mãe, rouba uma pestinha e ainda suja meu carro! Isso não vai ficar assim mesmo!
Mas Ron nem deu ouvidos, e o irmão mais novo decidiu continuar o caminho mesmo assim, até que dois minutos depois, aos trancos e barrancos, já estavam naquela pequena casa no meio do nada. Com certeza estava abandonada a tempos, e seria o local ideal para descartar o bichinho sem que nunca mais o achassem.
O carro parou e Maurice desceu rapidamente, gritando:
-Corre seu malandro, venha, me ajude com esse trambolho!
Ronald ainda estava aturdido, contudo pegou o menino morto e amarrado e praticamente jogou-o ao chão, onde ele ficaria por mais algumas horas até que decidissem o que fazer.
-E aí? De novo...
-Cara, não sei o que fazer.
-Nem eu.
-Bebe um pouquinho então, isso resolve.
-Você tem um estoque infinito de whiskys aí nesse furgão? – Maurice parecia entrar no clima do irmão.
-O suficiente para nós dois agora.
-Me dá uma garrafa então.
-OK.
-Mas antes vamos fazer uma fogueira, porque aqui no deserto, à noite, é bem frio.
-É pra já.
E as pequenas labaredas foram subindo junto às estrelas do céu, assim como a Lua que brilhava tão forte quanto o fogo que consumia alguns velhos pedaços de madeira que antes eram a porta da casa.
***
-*uta *erda, cara!
-Bom dia para você também, Rice!
-Não, cara! Olha a *osta que a gente fez, velho! Tô com nojo de mim!
-O que? – A pergunta de Ronald soou quase retórica quando o mesmo percebeu a grotesca cena que tinham protagonizado.
Em cima da fogueira, o menino jazia cozido e comido aos pedaços, em uma carnificina geral e enlouquecedora, que amedrontou ferozmente os dois homens. Um pouco de sêmen também estava ao lado do garoto, indicando que a noite foi mais louca do que se pensava.
-Eu comi o garoto! – Ronald se debatia debilmente, como se aquela carne humana fosse se desfazer dentro de seu corpo e simplesmente sumir de sua vida. – Caraca, meu!
-E você acha isso bom? Cê tá mesmo doido!
-Não, eu não tô doido não, eu só gostei.
-COMO ASSIM?
-Eu gostei daquela carne. Achei suculenta.
-VAI SE *DER! Eu não tô tão doido assim não!
Os dois irmãos quase se atracaram ao lado do resto do corpo do menino, ainda quente sobre a fogueira em brasas.
-Prova!
-Eu não!
-Prova de novo!
-NÃO!
-Quer ver, é bom! – Ronald abaixou-se e pegou um pedaço dos dedos do menino e meteu-o na boca como se fosse uma bala. – Ainda está suculento.
-Seu doido!
-Doido, não, diferente!
-DOIDO!
-Somente prova mais um pedaço.
-Só unzinho?
-Só um.
-Tá bom.
Outro dedo foi arrancado e atravessado no ar vagarosamente, posteriormente entrando na boca.
-Bom?
Maurice pensou, como se estivesse a analisar aquilo que estava fazendo.
-Não é ruim.
-Falei?
E como zumbis que perseguem a comida ambulante, os dois irmãos terminaram o café da manhã, botaram mais madeira sobre os ossos, urinaram sobre a carcaça e foram embora, deixando o local o mais nojento possível.
***
-Como andas, mocinha? – Ronald ria do irmão, que estava pensativo e prostrado recostado à janela.
-Acho que não foi certo o que fizemos. Não é certo comermos pessoas.
-O certo é não comermos coelhos e lebres, coitados. Seres humanos temos muitos no globo.
-Não acho isso certo.
Ronald reprimiu-o fisicamente, e colocando-lhe a mão em um local indesejado, disse em alto e bom tom:
-Você vai comer o que eu mandar, e eu estou te ordenando comer carne humana. Aliás, a próxima pobre alma que encontrarmos por essa estrada.
-Eu não quero mais fazer isso.
A mão de Ronald apertava cada vez mais o membro de Maurice, que foi ficando bastante dolorido.
-Vai fazer isso agora?
-Não.
Apertou mais a mão.
-E agora?
-Ainda não.
Parecia que o sangue ali iria parar, ao passo que a cabeça do irmão mais novo começara uma mudança radical em virtude da literal pressão do irmão mais velho.
-E agora?
-Sim, tá bom, eu vou tentar.
-Conseguir.
-Sim.
-Sim?
-SIM!
-Assim que eu gosto. – Ronald olhou para o horizonte, e um posto de combustíveis se aproximava junto com um casebre malfeito. Um homem de aproximadamente trinta e dois anos fumava sentado em um tamborete de madeira de lei, com uma das mãos enfiadas nos bolsos e os olhos no horizonte que se estendia ao infinito. – Aquele ali. Alvo travado, localizado e preparado.
-Não faça isso, por favor... – Maurice ainda tentou salvar o pobre homem. – Ele tem a nossa idade quase.
-Então é melhor ainda, que aí poderemos imaginar o sabor aproximado que nós possuímos. – Ron tascou-lhe um tapa na nuca que quase o fez desmaiar. – Vá lá atrás e pegue o machado. Vamos parar por aqui e seguiremos a pé, para facilitar nosso lado.
Maurice calou-se e, enquanto o irmão encostava o carro no acostamento, ele abria a porta e descia do carro.
O furgão era silencioso quando necessário, mas a porta traseira não ajudava muito neste quesito. Ela rangeu tanto que o homem do posto virou-se ressabiado e levantou-se do banquinho, vindo em sua direção. Ronald rapidamente agarrou o machado pelo cabo vermelho e escondeu-se atrás da porta, mais tarde rodeando o veículo e parando exatamente a dois passos do texano.
-Precisam de ajuda? – O homem loiro e barbado questionou, com um cheiro de fumo que infelizmente contagiou Maurice.
-Por enquanto, um cigarro.
-John. – Estendeu-lhe a mão. Maurice ficou estupefato, mas decidiu cumprimentá-lo, na esperança de uma salvação.
-Maurice.
Ronald aproximava-se psicopaticamente por trás do homem e erguia o machado, que reluziu à luz do sol. O brilho refletiu-se no asfalto empoeirado e fez com que o homem do posto virasse subitamente e pegasse o palhaço assassino com a mão na prova do crime, apesar de não sacar diretamente do que se tratava.
Ron desferiu-lhe uma machadada, que o acertou bem no ombro e respingou sangue bem no rosto de Maurice.
-Rice, me dá uma ajudinha aqui. – O mais velho pedia ao mais novo cautela, para conservar a frescura da carne. – Vamos levá-lo ao posto.
O estômago de Maurice revirou-se, e o máximo que ele conseguiu fazer foi afastar-se e fumar.
-Eu te encontro lá no posto, pode ir. Vou pitar um bocado.
-Vê se não demora que eu hoje tenho um prato especial que eu fui criando enquanto dirigia. Afinal, as quase dezesseis horas que demoramos até aqui serviram para inspirar-me. Quando passamos pelas proximidades de El Paso, no México, percebi que poderíamos nos fixar por ali, mas abandonei a ideia, visto que a polícia deve estar atrás de nós. Até lá no posto! Vou estar cozinhando.
Maurice estava perplexo, e quando finalmente tomou consciência de si, já podia enxergar o irmão apontando para ele, na esperança de que fosse lá ajudar. Fez sinal com as mãos e pegou o Marlboro.
A fumaça entrou em seus pulmões e chegou até os alvéolos lentamente, com uma sensação viciante de prazer. Queria esquecer o resto do mundo, mas principalmente a encrenca em que havia se metido. Queria ser feliz, longe dali, mas não o poderia enquanto estivesse debaixo das asas do irmão que por sinal era quase como um abutre em busca de presas.
Ron assoviou bem alto, com a boca salivando.
-Vem, seu panaca! Não tenho o dia inteiro!
Maurice obedeceu-o como um cachorro obedece ao dono.
-Que foi, Ronald? O que é que você planeja? – Maurice o vira acender a fogueira característica, mas não vira o corpo do texano. – Desta vez será carne de verdade, pelo menos?
-Não. – Engasgou com saliva.
Rice foi acudílo com esperteza. Bateu em suas costas, iniciando uma manobra de desengasgo. Da forma mais nojenta possível, saíram de sua boca dois glóbulos oculares azuis que pertenciam ao homem assassinado, com toda a certeza.
-Seu *ta, comeu ele inteiro, não foi? Virou um cão selvagem, ansioso por carne humana.
-Rice, meu irmão. Que ingênuo! – Deu uma risada malévola. Pegou os glóbulos que havia cuspido e colocou-os para observar os do irmão. Maurice corou o ficou com o coração na mão. –Come.
Maurice pestanejou.
-Come.
Com um tapa sorrateiro, derrubou as bolinhas que o irmão segurava. Ron abaixou-se vagarosamente e capturou as esferas que rolavam.
-Come, ou...
-Ou o que?
-Ou... – Ronald não sabia o que falar. – Ou então você vai ver.
-Ver o que?
-O que eu vou fazer com você. – O palhaço estava ficando com raiva.
-Duvido.
-Não se brinca com palhaços, caro irmão. Aquele sorriso que estampamos é somente mais uma marca do sofrimento que trazemos no peito.
Maurice desferiu-lhe um golpe digno dos samurais japoneses e correu em direção ao furgão, sem ao menos olhar para trás, e deu a partida no automóvel, que de início, não queria pegar.
-Seu *zão! Volta aqui! – Ron gritava e lançava pedaços do homem esquartejado em direção ao furgão, manchando o caminho de vermelho escarlate. – Vamos comer uns hambúrgueres.
Entretanto, o homem de cuecas não queria mais fazer parte daquela loucura, e pisou fundo no acelerador, deixando o demente de seu irmão mais velho gritando e pulando de raiva, com o corpo coberto do sangue e das tripas do texano.
 Ademais, ele sabia que não encontraria mais o irmão por algumas décadas.
Maurice reorganizou sua vida e, curiosamente, montou uma lanchonete (com carne bovina) que ele resolveu denominar “O Rei do Hambúrguer”, que fez muito sucesso em todos os Estados Unidos.
Os negócios cresciam, e as viagens se equacionavam em progressão aritmética, ao passo que os lucros se masterizavam e renderizavam suas campanhas fenomenais de marketing. E foi em uma dessas viagens que ele passou por uma situação que mudaria de vez sua vida.
-Bom dia, senhor. Suco, refrigerante, champanhe? – A aeromoça, de nome Mariana, trajava um elegante corpete vermelho e azul, salpicado de estrelas. Eles voavam na American Airlines, e o senhor Maurice Simons, desfrutava das viagens na classe A.
-Champanhe. – Ele pegou a taça e agradeceu.
A loira que o atendia se despediu e continuou com o carrinho.

Ao chegar em Los Angeles para participar da inauguração de mais uma filial de seu empreendimento, topou de cara com um palhaço que na hora o fez lembrar de Ronald.
-Com licença, seu nome?
-Mark Anthuerpia.
Não era ele.
-Bom trabalho! – Maurice continuou seu caminho até a inauguração.

A festa foi excelente, com vendas superando o esperado. Já na volta para o aeroporto, com o tempo corrido, reparou em uma nova lanchonete que inaugurara no mesmo dia.
O slogan colorido e chamativo era contagiante, tanto que o fez parar e entrar.
Por dentro, a loja era mais histérica e ilusionista: Diversas garçonetes deslizavam graciosamente em cima de patins, que reduziam o tempo de entrega e ainda divertiam os frequentadores. Era, sem dúvidas, um empreendimento que faria sucesso.
Em um anúncio ao lado do caixa, vários brinquedos estavam em exposição, perto de um cartaz que oferecia os brinquedos junto ao hambúrguer com feições infantis. E, surpreendentemente, um palhaço divertido ficava por ali, encantando os clientes com mágicas e outros truques, além de certas piadas bobas.
Maurice aproximou-se do palhaço com atenção, e estendeu-lhe a mão amigavelmente.
-Com licença? – Simons parecia confuso. Era ou não Ronald?
O palhaço respondeu da maneira mais idiota possível, sem sair do personagem e estendendo também as mãos, em um cumprimento suficientemente exagerado.
-Bom dia! – O sorriso vermelho e branco estampava felicidade. – O que você vai querer para comer?
-Nada. – Maurice tentava reparar no rosto por detrás da maquiagem. - “Ele certamente havia mudado muito com o tempo, assim como eu.”, pensou.
-Quem sabe um hambúrguer especial? – O palhaço era macabro. Maurice entendeu ali naquele exato momento o porquê daquelas pessoas que choram quando veem um. – Ou então nossa costela exclusiva?
-Não. Obrigado. Quero apensas saber o seu nome.
-Meu nome, pequenino, é Ronald.
Era ele. O irmão diabólico que ele abandonara anos atrás. Aqueles hambúrgueres especiais eram na verdade feitos de carne humana.
“Espero que não me reconheça”, quase orou para Deus.
-Espera, eu te conheço? – O palhaço tocou em seu braço.
Maurice simplesmente correu.

Dois dias depois e não mais sinal do palhaço diabólico além das propagandas que inundavam a TV. As crianças adoravam o palhaço vermelho e amarelo. Maurice se preparava para dormir, em um hotel em Nova York, algo simples e compacto, sem muito luxo.
A luz tremulou por alguns instantes e se apagou.
Um vulto dançou na escuridão.
Ao voltar a energia, duas mãos envoltas em luvas brancas estavam no rosto de Maurice, prestes a sufocá-lo. Escondiam a peruca vermelha e a roupa amarela com listras carmim.

E o palhaço demoníaco sufocava-o com demência, sacudindo a presa e exclamando com satisfação para o irmão ouvir pela última vez:
-Amo muito tudo isso.

Enviado e intitulado autor : Walter Crick,