quarta-feira, 5 de março de 2014

Amigo Abandonado


Willians atualmente está com 27 anos, esta em seu carro muito apreensivo, há anos ele havia saído da Cidade de Borá depois do misterioso desaparecimento de seu amigo Carlos. Ele imaginava como estaria aquele pequeno município, Borá em seu ultimo senso contava com uma população de 805 habitantes, sendo considerada a menor cidade do Estado de São Paulo, lembrava-se da praça central onde havia a igreja e o colégio onde passava a maior parte do tempo com seus colegas na adolescência, Carlos seu melhor amigo estava sempre com ele, jogavam bola, jogavam vídeo game, nadavam no rio próximo a cidade, onde estava um, lá também estaria o outro. Certa dia Carlos e Willians cabularam aulas e foram ao rio, fazia um absurdo calor de 38°C e eles queriam muito nadar, ficaram apenas com o shorts do colégio e se jogaram na água, estava muito refrescante e eles se divertiam muito, ao olhar para o alto Willians viu uma pedra na beirada e resolveu escalá-la para do alto saltar na água,  Carlos protestava muito pelo perigo que poderia ser aquela brincadeira, saiu da água e ficou a beira do rio observando o amigo, ao chegar no topo da pedra Willians escorregou, suas pernas foram primeiro em sentido o rio mas para desespero de Carlos o amigo bateu a cabeça na pedra ficando desacordado. Carlos tinha o corpo franzino e Willians era demasiado grande para sua idade, ele não sabia o que fazer a correnteza esta levando seu amigo e se ele fosse buscar ajuda poderia não mais achá-lo,  sem saber nadar direito Carlos não pensou, se jogou na água para salvar o amigo, a correnteza no ponto onde o alcançou estava forte mas ele agarrou o corpo do amigo com firmeza e manteve a cabeça fora da água, tentou nadar em direção a margem mas não conseguiu,  agarrou-se pelo braço livre em um tronco e segurou o mais forte que pode o amigo que era muito mais pesado, a cabeça de Willians sangrava e ele tinha que sair do rio e ainda buscar ajuda. O tronco ao qual se segurava desprendeu-se com o peso deles, mas ele havia conseguido empurrar o amigo para a margem, o tronco rolou sobre seu pé e o quebrou em três partes, Carlos soltou um enorme grito de dor, arrastou o próprio corpo para o lado do amigo que sangrava, precisava de ajuda para os dois agora. Reuniu toda sua força e coragem e foi lentamente se arrastando até a beira da estrada próxima ao rio, logo viu que um carro se aproximava, um dos moradores da cidade voltava para casa por aquele caminho, com muita dor ele conseguiu ficar em pé e acenar por ajuda, Sr Joaquim que conhecia bem aquele amável garoto parou o carro e correu até ele, mas ele não quis ajuda só gritava: - Ajude o Willians, ajude meu amigo, ele ta mal. Sr Joaquim foi em direção ao rio pegou o garoto desacordado nos braços colocou em seu carro junto a Carlos e levou os dois ao hospital, Willians se recuperou bem, mas a fratura de Carlos foi muito grave, ele jamais voltaria a andar sem mancar e por isso virou alvo de bulling no colégio, mas a companhia de seu inseparável amigo Willians valia mais que qualquer outra amizade.


Mas não era esta a historia que Willians pensava enquanto dirigia de volta a cidade de Borá, para o enterro de sua avó. Pensava no que uma brincadeira de adolescente fez com a vida de toda uma família, a de seu amigo Carlos, e que ele não fez nada para evitar. Ao chegar à cidade reconheceu cada lugar, pequena e aconchegante Borá não havia feito grandes mudanças, continuava sendo a mesma pacata e linda cidade onde todos se conheciam, foi direto para casa de sua avó onde estavam velando o corpo, reencontrou seus amigos da época de colégio que ainda estavam na cidade ou haviam voltado por causa do falecimento de sua avó, cumprimentou a todos e sentou-se ao lado de sua chorosa mãe.


Após o enterro de sua avó Willians resolveu que iria ficar mais uns dias na cidade para ajudar sua mãe com os objetos de sua avó, no dia seguinte ele levantou muito cedo, pois não havia conseguido dormir bem, teve um sono agitado então decidiu se levantar, caminhou pela cidade até a padaria que era do lado oposto sentiu um estranho desconforto, parecia que alguém o observava, Willians olhava em volta, mas não havia ninguém, comprou o pão para o café da manha e no retorno teve a estranha sensação de ser observado novamente, porem, desta vez ele avistou uma senhora, parecia mais sofrida e doente, do que idosa. A mulher o observava caminhar sem tirar os olhos dele, estava no quintal de uma pequena casa, a mais mal cuidada e em ruínas da cidade, ele sentiu uma estranha sensação de conhece – lá, buscou pela memória, mas nada, desviou o olhar e rumou para casa. O dia foi muito cheio de afazeres, sua avó teve o costume de a vida inteira ajuntar coisas, à tarde resolveu ir observar o rio onde quase perdeu a vida na adolescência, novamente passou em frente à velha casa, mas a senhora não estava, foi ao chegar ao rio que seu coração disparou, se escondeu atrás de algumas arvores,pois lá estava ela, aquela mulher, ela chorava e parecia estar rezando, sem pensar Willians se retirou de lá, voltou para casa e tentou esquecer o que viu.


À noite Willians teve novamente uma noite conturbada, em seu pesadelo sonhava com o velho casebre que ficava afastado da cidade, todos o chamavam de casa dos gemidos, mas nunca haviam escutado nada, em seu sonho escutava muitos gritos e gemidos de alguém conhecido, seu amigo Carlos. Ouvia-o gritar por socorro, pedir por ajuda, gritar seu nome: - Willians, Willians me ajuda, nós somos amigos, não me deixe aqui, não quero morrer - mas ele não foi ajudar, só se afastou. Acordou suado, pensando em seu amigo e não conseguiu mais dormir pensando em seu sonho.


Na manha seguinte enquanto ia para a padaria avistou novamente aquela mulher estranha, a mulher o encarava e ele logo desviou o olhar, foi à padaria torcendo que novamente ao voltar pelo caminha ela não estivesse lá, para seu espanto ela ainda estava, observando-o pela cerca, ele passou rapidamente pela casa, mas parou ao ouvir a voz da mulher o chamar: - Willians?. – Ele parou e se virou lentamente, a mulher fazia sinal para que ele fosse até ela, mas ele apressou-se em ir embora. A tarde na casa de sua mãe, distraído assistindo televisão virou-se para ir à cozinha, assustou-se ao ter a impressão de ter visto alguém o olhando pela janela, decidiu novamente ir até o rio.


Ao chegar ao rio, viu novamente a mulher chorando e rezando, mas desta vez enchendo se de coragem não se escondeu, a mulher se virou para ele e perguntou:- É você Willians? Ele não a reconheceu e como aquela mulher sabia seu nome? Quem era ela? O que ela queria com ele? Willians se aproximou lentamente dela e tentou buscar na memória, mas nada, ela tocou seu rosto e começou a chorar. – Nossa Willians quanto tempo não te vejo, sempre quis falar com você – disse a mulher.


- Quem é você? Não me lembro de você – disse Willians.


-Sou a mãe de Carlos, seu melhor amigo que desapareceu há 10 anos, estes anos todos venho buscando saber o que aconteceu com ele, na mesma semana que ele desapareceu, você e outras crianças da escola também se mudaram, você sabe de alguma pista que possa me levar ao Carlos? Já gastei tudo que eu tinha procurando ele, hoje vivo na miséria.


Willians sentiu muita dó da mãe de seu amigo, ficou com forte remorso de como uma brincadeira mal feita estragou a vida de duas pessoas, agora era à hora da verdade, chegou ao fim o grande segredo, Willians tomou coragem e começou a falar lentamente: - Dona Márcia, preciso confessar algo que fizemos quando ainda éramos adolescente, Carlos e eu éramos grandes amigos, porem eu era apaixonado por Carolina, a mais linda garota de nossa turma, queria muito namorá-la mas ela não gostava de Carlos, me pediu para me afastar dele só que eu nunca teria coragem, então sem que eu soubesse armaram uma brincadeira para assustá-lo, sabe aquela casa no meio da floresta perto do rio,  o levaram até lá, dizendo que eu precisava de ajuda, fiquei sabendo e corri para lá, contaram a ele uma história de espíritos de que eu estava preso na casa aos gemidos e ele sem pensar correu para lá, ele nem parou, entrou pela porta correndo e parou no meio da sala, mas ao fazer isso os que vinham atrás puxaram e trancaram a porta, todos começaram a bater nas laterais da casa que é de madeira , mas Carlos estava bravo e não com medo, ele ameaçava pegar cada um deles quando saísse de lá, foi quando um deles resolveu colocar medo nele, pegou um pedaço de madeira enrolou um pano e colocou fogo, ameaçava que iria colocar fogo na casa com Carlos dentro, ele passava a tocha pelas paredes da casa que úmidas não pegavam fogo, quando ele foi para o fundo da casa e ficou em silencio, foi nesta hora que eu cheguei, vi um grupo da nossa classe em frente a aquela velha casa, eles riam e Carlos furioso gritava para solta-lo, eu gritei o mesmo, ele ouviu minha voz e me pediu ajuda, mas três alunos de nossa classe me seguraram, logo vi uma fumaça sair de traz da casa e Elton sair de lá com um galão nas mãos dizendo, achei um tanque de gasolina e botei fogo, e jogou o liquido do galão na porta e colocou fogo, fiquei desesperado, ouvia os gritos de Carlos de pânico, mas não podia fazer nada, ele gritava para que eu o ajudasse enquanto os outros fugiam de lá, mas o que eu iria fazer ? Como iria ajudá-lo? Eu tinha apenas 17 anos não sabia o que fazer.


Willians fez uma pausa nas palavras, a mãe de Carlos olhava-o atônica e perplexa, sempre pensou que o filho havia fugido de casa, ela chorava e soluçava olhando para Willians incrédula, aquele menino bom de quem seu filho salvou a vida não fez nada para impedir que fizessem uma pegadinha dessas com seu filho e o que aconteceu, ela já imaginava, mas quis ouvir a história completa: - continue Willians quero saber o que houve com meu filho.


- Eu sei que devia tê-lo ajudado, deveria ter tentado quebrar a porta, deveria ter procurado ajuda (agora Willians também chorava), mas não tive coragem, me senti culpado, aquilo que estava acontecendo era minha culpa, o fogo já estava na casa toda e eu me afastei para parar de ouvir os gritos dele, ele gritava meu nome e eu fui um covarde, abandonei meu amigo lá.


 - NÃO CHAME DE AMIGO, ELE SALVOU SUA VIDA E VOCE O ABANDONOU PARA MORRER –gritou a mãe de Carlos desesperada. – Você o abandonou para morrer, a – ban – do – nou – aquele - que - sal - vou – sua – vi –da .  – Disse a mãe de Carlos em meio a soluços, apertando forte o peito olhou nos olhos de Willians e caiu de lado em um ataque cardíaco fulminante. 

Texto Criado Por:
Adriano Dymattos
São Paulo -SP 

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